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7 - 9 minutes readQuando a heroína deixava de existir, parte 2.

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                                                                  Por Mary Anne M.W.

Há duas edições eu escrevi um artigo com esse mesmo título falando do caráter anti-heróico de Xena, os momentos em que a heroína deixava de existir para revelar uma mulher puramente humana, com anseios humanos, necessidades humanas, sentimentos e momentos de egoísmo. Ou seja, deixávamos de ter uma “super” humana para ter uma personagem mais real, mais possível, mais acreditável.

No final do artigo passado eu cogito a hipótese de no futuro, realçar momentos anti-heróicos de Gabrielle, e como houve pedidos e eu achei que isso seria produtivo, aqui estou eu. Alguns podem ficar duvidosos ao pensar se a garotinha inocente de Potédia tinha momentos de egoísmo, anti-heroísmo. Pois eu lhes digo, céticos, Gabrielle era humana! Isso é intrínseco a ela!

The Titans

A doce e inocente Gabrielle resolve tirar proveito da situação e mantém a mentira deixando que os Titãs acreditem que ela é deusa! Bom, vamos dar um desconto, ela era apenas uma adolescente querendo provar um pouquinho da deliciosa sensação do poder.

 

Return of Callisto

Ah, agora sim! É o tipo de atitude que Gabrielle teve NESSE episódio que eu gostaria de ressaltar. Para quem não assistiu o episódio é difícil imaginar a doce Gabrielle do começo da segunda temporada soltando a seguinte frase “Daqui em diante, tudo que eu quero é o sangue de Callisto em minhas mãos”. Tudo pela morte do seu “adorado” Pérdicas. Gabrielle ali estabeleceu uma meta: matar Callisto, ver Callisto morta qualquer que fosse o custo, mesmo que tivesse de morrer pra isso. A gente pode imaginar como ficou a cabeça e o coração da pobre Xena que já tinha sofrido calada até não poder mais com o casamento da melhor amiga, como se não bastasse tê-la perdido uma vez, agora ainda corria o risco de perdê-la para sempre. Convenhamos, Callisto sabia como atingir Xena mesmo! Afinal o que poderia atingir Xena mais do que ver sua amada amiga proferindo palavras de tanto ódio como:

“Xena, acorde e olhe à sua volta! A pequena e inocente Gabrielle está morta, e nada vai trazê-la de volta! Agora me ensine como usar uma espada, então ao menos terei uma chance de lutar! Por favor! […] Eu vou matá-la! Me ensine como matá-la Xena. Eu a abrirei e olharei ela sangrar! Eu vou matá-la Xena. Me ensine como matá-la!”

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Tenho que confessar, que embora eu seja grande fã da barda e supostamente devesse gostar de um episódio onde Gabrielle tem tanto destaque, esse episódio não está entre meus favoritos, exatamente pela carga emocional pesada que ele trás. Ver Gabrielle agindo da maneira que age ali é perturbador. É mais fácil imaginar a barda da terceira, quarta em diante com atitudes assim, mas AQUELA Gabrielle, do começo da segunda temporada ainda era a garotinha que estávamos acostumados a ver.
O espectador quase se coloca no lugar de Xena, sentindo o mesmo desespero que ela. Desespero esse que nos leva a uma das cenas mais comoventes da série:

“Se há alguém escutando… sabe, eu não sou muito de rezar. Mas eu não sei mais o que fazer. Eu estava pronta pra desistir uma vez, e… e Gabrielle apareceu na minha vida. Por favor, não deixem aquela luz que brilha no rosto dela ir embora. Eu não poderia suportar a escuridão que se seguiria…”

            No fim, nossa adorável Gab volta ao seu normal e percebe que não está preparada para tirar uma vida, mesmo a de Callisto, e prefere morrer a fazer isso. O serviço acaba ficando pra Xena, mas sobre isso eu já falei no artigo anterior.

 

The Debt/ Forget me Not

            Pois é, namoradas amigas orientais do passado nunca são bom sinal no Xenaverse. Muito menos monges no acampamento no meio da noite. É, e o monge apareceu com uma mensagem de Lao Ma, e Xena desembestou rumo à China para “tornar o dragão verde pequeno novamente”. Mas não contou com o fato de que aquilo despertaria um ciúme ferrenho em Gabrielle, num primeiro momento, camuflado como proteção à amiga, e num segundo momento (no episódio Forget me Not) assumido completamente.

“Eu quis chegar lá antes de Xena… para que pudesse traí-la. Eu dei TUDO a ela e isso não significou nada. Eu a odiei por amar outra pessoa! Eu queria magoá-la! Eu queria puní-la! E eu quase a matei. Por quê? Meu ódio e ciúmes quase destruíram minha melhor amiga”.

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Ainda bem que Gabrielle aprendeu a se controlar, caso contrário não sobraria nem um pedacinho de Xena pra contar a história depois de Antony and Cleopatra da quinta temporada.

 

Ides of March

Depois de mais de meia temporada seguindo o caminho do “amor”, da “paz”, “da passividade”, isso chega ao fim em Ides of March. Um paralelo interessante que podemos ver é que em A Good Day, um dos últimos episódios em que a Gabrielle luta pra valer antes de aparecer todos os gurus pacifistas na vida dela. Gabrielle erra a lança que tenta arremessar num soldado romano para salvar a vida de Flanagus. Infelizmente um trecho do episódio foi cortado, mas na cena final Gabrielle, com os olhos cheios de lágrimas, dizia que Xena tinha que ensinar ela a usar aquelas armas. Xena responde que se ela arremessasse o cajado 10 vezes, ela acertaria as 10, mas o que aconteceu foi que ali, no ultimo segundo, ela hesitou em matar o soldado.

Aí vemos que Gabrielle não estava preparada para matar alguém para salvar um homem que não tinha nenhum peso em sua vida. Voltando para Ides, na fatídica cena onde Xena vai ao chão com a coluna quebrada, Gabrielle não pensa duas vezes ao mandar para o Tártarus meia temporada de caminho da paz, pegar uma lança e cravar no peito de um centurião sem hesitar ou sem problemas de pontaria, ou seja, vemos que por XENA, Gabrielle estava disposta a matar, porque ali estava a pessoa que ela amava, prestes a ser morta pelos romanos. Gabrielle enlouquece e, no auge de sua fúria, tira a vida de 10 romanos enquanto Xena, aos brados, tenta impedir que ela se desvie do caminho da paz.

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Who’s Gurkhan

O início do episódio dá tudo a entender que seria um reencontro em família, um lindo dia, Gabrielle retornando ao lar… e de repente, aquela bomba. Alguns minutos depois temos Gabrielle gritando na chuva com uma voz gutural:

“EU QUERO VINGANÇA […] Aquele homem assassinou minha mãe e meu pai! AGORA eu vou matá-lo”.

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E em seguida, ignorando os apelos de Xena e de Eva, parte numa missão suicida de entrar em Mogador e ter sua vingança. Assim como em Return of Callisto, ela tinha o mesmo propósito, e da mesma forma, muito provavelmente não sairia viva. É claro, Xena teve de fazer alguma coisa.

Passados os 40 minutos de adrenalina, Gabrielle volta a si e decide não matar o tirano.

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“Você está com medo? Como minha mãe? Meu pai? Como o marido da minha irmã? Logo antes de você cortar as cabeças deles. Se eu te matar, você vence. Eu me torno como você. Eu te odeio.”

 

When Fates Collide

Universos alternativos sempre são algo interessante, e nesse Gabrielle não era uma guerreira, mas uma simples escritora que vivia perto do mar. Que escrevia sobre amor sem nunca tê-lo sentido, e que teve sua vida completamente mudada quando seus olhos encontraram os olhos da imperatriz de Roma.

Gabrielle sentiu a mudança, mas não a compreendeu por não ter conhecimento de sua vida prévia. Ao adquirir esse conhecimento e ver sua alma gêmea sacrificando tudo por amor, não hesitou em querer mandar o universo pelos ares.
Não há Xenite que não se arrepie todo com Gabrielle irrompendo pra dentro do templo das Fates e com um sorriso meio psicótico, planejando, literalmente, destruir o mundo (pelo menos aquele mundo).

“Fates: Não, queimar o tear, vai destruir tudo!
Gabrielle: Que assim seja! Seu tear destruiu tudo que deveria ter acontecido!

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Gabrielle no maior estilo Girl Power, ativando o modo “Dane-se o resto, minha amiga está morrendo e eu tenho que fazer algo”, certamente agradou bastante aos subtexters.

 

A Friend in Need II

Namoradas Amigas orientais do passado e monges aparecendo no meio da noite DEFINITIVAMENTE não prestam. E no meio do caminho, tinha a Akemi.
Encurtando todo o blábláblá de duas horas que nós sabemos que acontece, chegamos ao ”FIN” do FIN.

Xena: Para aquelas almas serem libertadas para um estado de graça, elas devem ser vingadas. Eu devo permanecer morta.
Gabrielle: Mas se eu trouxer você de volta à vida…
Xena: Aquelas almas se perderão para sempre.
Gabrielle: Mas Xena, isso não está certo! EU NÃO ME IMPORTO! Você é TUDO que importa para mim!

Whoa!!! Gabrielle acaba de mandar 40 mil almas japas irem se lascar! Vocês têm noção do que isso significa se colocarmos ESSA Gabrielle em paralelo com a Gabrielle da primeira temporada, ou da quarta temporada, por exemplo?
Assim como Xena diz em Legacy que Gabrielle na vida dela está acima do bem supremo, em AFIN II isso se torna recíproco. Pena que as chances não foram mútuas.

 

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Gabrielle: Eu te amo Xena, como eu vou continuar sem você?
Xena: Eu sempre estarei com você Gabrielle. Sempre.

 

Esses são os momentos chave escolhidos para mostrar esse caráter mais humano e menos heróico de Gabrielle. Vale lembrar que isso não torna a personagem menos boa ou mais corrompida, mas apenas mostra traços do que uma pessoa normal como eu ou você, leitor, faríamos em alguns momentos de nossas vidas

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