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16 - 22 minutes readO aniversário de 15 anos do series finale de Xena e o que está por vir no Xenaverse!

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No último 18 de junho, Xena completou 15 anos de encerramento na televisão (seguido dos 14 anos de encerramento na televisão brasileira, pelo USA Network). Para falar sobre isso, a Entertainment Weekly conduziu uma entrevista muito especial com um dos criadores da série, Robert Tapert (marido de Lucy), com a Lucy Lawless (Xena) e com a Renee O’Connor (Gabrielle).

Dentre várias coisas, os três conversaram sobre assuntos como o início de tudo, como Robert planejou que Xena fizesse sua primeira aparição em Hércules – The Legendary Journeys, os obstáculos pelos quais passaram para que Xena fosse produzida, como as atrizes se ajustaram no papel e, mais do que colegas de trabalho, tornaram-se amigas, as impressões que tiveram em relação ao famigerado “A Friend In Need (Uma Amiga Em Perigo, no Brasil)” e suas impressões sobre o reinício da série pelas mãos da NBC, guiado pelo showrunner Javier Grillo-Marxuach.

A morte da Xena é um grande arrependimento que eu guardo, pois eu não percebi o que ela significava para as pessoas. Pensamos: “Ah, é um final muito forte.” Agora eu apenas digo “Vamos fingir que isso nunca aconteceu.” (Lucy Lawless).

Enquanto não saem maiores informações acerca da nova série, que tal viajar um pouco no tempo e descobrir fatos interessantes sobre a nossa série favorita?

Como Xena foi de uma guerreira que empunhava espadas a um ícone feminista?

Depois do lançamento de Hércules – A Lendária Jornada, a Universal começou a planejar outro pedaço de sua corporação. Enquanto isso, o produtor executivo, Robert Tapert, sugeriu uma princesa guerreira malvada para aparição em um arco de três episódios antes de ser morta, mas as coisas mudaram…

TAPERT: Naquela época, não havia seriado com heroínas na TV, e A Mulher Biônica e Cagney & Lacey foram as duas séries que mais geraram identificações com protagonistas femininas que já tinha ido ao ar. Mesmo que elas tenham tido sucesso, nunca foram reprisadas em rede sindicalizada. Os executivos da Universal disseram “Sabe? Você deveria se cortar todo antes de alguém tentar fazer um spin-off dessa personagem” (de Xena). Naquele tempo, o chefe do estúdio me deu um sermão sobre o porque ele dizia isso. Ele se preocupava com o fato de achar que heroínas não funcionavam bem na televisão e disse para nunca tirar os olhos de Hércules.

Lawless, que já havia aparecido em Hércules interpretando duas outras personagens (amazona Lysia no longa Hércules e as Amazonas e a esposa de um centauro, Lyla, em “As Darkness Falls” (S01E06) de HTLJ), estava longe de ser a primeira escolha para interpretar a heroína.

Sendo uma antiga malfeitora que foi poupada por Hércules, Xena embarcou em uma jornada de redenção para seus crimes.

TAPERT: A série nunca foi pensada para ser um spin-off, originalmente. Enquanto fazíamos o arco da princesa guerreira malvada, a Universal perguntou se traríamos alguém já consolidado de outra série dos estúdios para atrair mais telespectadores para Hércules. Depois, Vanessa Angel (Weird Sicence) ficou doente e tivemos que suprir a necessidade de substitui-la. Tínhamos acabado de gravar com a atriz Kim Delaney em Toronto para um filme que seria lançado direto em home vídeo e ela estava ótima para o papel e disse sim. Entretanto, recebemos uma ligação do agente dela meia hora depois dizendo que ela não participaria porque isso a tiraria da temporada dos pilotos.

LAWLESS: Eles se mobilizaram para conseguir um certo número de atrizes para viajar de Los Angeles até a Nova Zelândia, mas era a temporada de pilotos. Estava sendo filmada durante janeiro daquele período e não se saia da cidade, então todas recusaram pensando que seria apenas um arco de três episódios.

TAPERT: Finalmente o estúdio declarou: “apenas chamem aquela atriz que interpretou a Xena nos episódios de Hércules e pintem o cabelo dela de preto. ”

LAWLESS: O papel caiu para mim após todas as atrizes dizerem não. Eu era a garota sortuda local que ficou com a personagen

TAPERT: Quando eles viram a audiência daquele episódio, pensaram, em seguida: “Vamos fazer um spin-off. ”

LAWLESS: Pensei que fosse um processo totalmente natural: “É isso que acontece com todos os seriados americanos.” Eu era inocente a esse ponto. Eu sou uma criança que vive do outro lado do mundo e pensei apenas “É claro que o seriado sempre consegue ser um sucesso e depois você vai para Hollywood construir uma carreira.” E só agora estou entendendo o que isso significa, a cataclísmica sorte que eu tive. Todas as estrelas se alinharam para mim.

A chave então seria procurar a parceira de Xena no “crime”: Gabrielle.

TAPERT: Antes de começar Xena, um roteirista que estava em alta na época disse: “Toda história é uma de redenção”. E eu pensei sobre aquilo e fiquei “De fato, em algum nível, é”. Mas naquele caso, o que você faz quando não é mais malvado e quer encontrar uma bússola moral na vida? Gabriele era a bússola moral para Xena e isso as unia.

O’CONNOR: Lembro-me de fazer testes para Rob Tapert e o produtor executivo Eric Gruendemann. Os dois me reconheceram de um filme para a TV australiano.

TAPERT: Tínhamos filmado um longa de duas horas com Renée de Hércules e eu adorei a presença que ela tinha em tela, então quando tivemos a ideia de Xena e Gabrielle, Renee sempre esteve na minha mente em primeiro lugar para definir Gabrielle. Passamos por vários castings, pois o estúdio queria ver outras opções. Ela era muito jovem? Ela era isso? Ela era aquilo? Trouxemos ela de volta várias vezes.

O’CONNOR: Tive que passar por um processo extenso de testes para viver Gabrielle.

TAPERT: Havia mais alguém que era uma versão menor de Gabrielle, de uma maneira diferente e que era realmente uma boa atriz, mas no final, eu permaneci com a minha escolha por Renée.

O’CONNOR: Fui contratada de Los Angeles. Mudei-me para a Nova Zelândia e conheci Lucy na primeira mesa de leitura. Lembro-me de ter jantado com Lucy uma semana antes de começar a filmar a série para que pudéssemos nos conhecer.

LAWLESS: Ela havia sido contratada para esse personagem que deveriater bastante idolatria por mim, me olhava e eu dizia “Para com isso! O que você está fazendo? ”.

O’CONNOR: Eu estava mais fascinada pela história dela e pela atriz que ela era. Levamos um tempo para nos conhecermos, mas eu sou, provavelmente, a maior fã dela.

LAWLESS: Ela era apenas um pouco mais nova e acho que cheia da “Gabrielle” em si. Passamos por muitas mudanças, passamos por nossos vinte anos juntas. Éramos totalmente irmãs e há muito senso de proteção entre nós duas. Ela é uma ótima mulher e se tornou uma grande artista.

No ar em 100 países, Xena se tornou uma sensação mundial, sempre no Top 5 de séries dramáticas em sindicalização durante suas seis temporadas – mas o sucesso não veio do nada.

TAPERT: Quando tivemos acesso às avaliações da primeira semana fiquei surpreso, pois Xena deveria ter feito um pouco melhor por causa do horário nobre. Demorou um ano inteiro para que ela finalmente subisse nas notas.

O’CONNOR: Lembro de algumas vezes em que Lucy retornava à América para promover a série – ela fez isso junto com Kevin Sorbo, que interpretava Hércules – e lembro de um período onde as pessoas sabiam o nome dela da mesma forma que sabiam o de Kevin. Isso me surpreendeu, pois pelo que eu sei, trabalhávamos na Nova Zelândia e ninguém sabia o que fazíamos.

TAPERT: Descobri que a série seria um sucesso quando encomendaram a segunda temporada, e a meta naquela época era Hércules e Xena baterem Deep Space Nine e Baywatch, os dois shows sindicalizados que estavam no ar naquele período. Poderíamos alcançá-los? Era o parâmetro que tirávamos para medir se o show estava indo bem ou não.

Enquanto Xena lentamente ganhava seguidores, o elenco e a equipe filmaram a primeira temporada em “uma bolha” na Nova Zelândia, em uma época em que não havia redes sociais

TAPERT: Demorou uma temporada inteira para que Xena, a série, encontrasse suas próprias pernas e se definisse.

LAWLESS: A roupa de Xena demorou um pouco para se firmar, já que haveria uma parte na frente que pressionaria demais e não permitiria que eu respirasse. Quando as costelas não podiam se mexer, eu tinha ataques de pânico e ficava bastante envergonhada com isso no começo. Eu usava uns shorts curto de ciclista por baixo, mas tive que me livrar deles e foi bastante embaraçoso usar algo que mostrasse tanta pele.

O’CONNOR: Já eu usava uma roupa de camponesa que lembrava Little House on the Prairie.

TAPERT: Doug Lefler me disse: “Este é o acessório que ela deve ter quando aparecer em Hércules. Este objeto redondo de arremessar que impressionou a todos tem que ser uma das armas da Princesa Guerreira. ”

LAWLESS: Trabalhar com o Chakram era muito fácil, pois ele era mágico. Você arremessava para um lado da câmera e ele voltava pela outra. É tão confiável. Devem ter vários vídeos de bastidores comigo derrubando ele ou errando. Muitos bloopers do chakram.

Nasce o lendário grito de guerra de Xena – coisa que até hoje Lucy tem que repetir para os fãs.

LAWLESS: Todo o tempo. É tão estranho que os fãs peçam isso. Por muito tempo eu não o fiz e então eu meio que desaprendi. Tive que ir pelo caminho de menor resistência e cedi. Lembro exatamente do dia que ele foi criado: havia na TV mulheres árabes velando a morte de um jovem em um funeral e elas estavam murmurando. Robert chegou e disse: “Quero que Xena tenha o próprio grito de guerra, como Tarzan. Você acha que consegue? ” Tentei, tentei o tempo inteiro e não conseguia fazer, então mudei. O grito de Xena é basicamente baseado no das mulheres árabes e foi ideia do Rob. Rob costumava assistir a todos os cortes de todos os episódios todos os dias na hora do jantar e para mim era terrível ouvir os sons enquanto preparava o jantar.

Quando o show se firmou, a comunidade LGBT rapidamente o abraçou e reconheceu a conexão existente entre Xena e Gabrielle.

LAWLESS: Quando tivemos trechos dos artigos do Village Voice enviados a nós – lembrem-se, não havia twitter ou outra rede social naquele tempo – “Lésbicas? Tá bom. Certo. ” Isso não era um problema para nós.

O’CONNOR: Eu não dei muita importância sobre como isso repercutiria na comunidade. Eu apenas olhei e pensei “Qual a verdade para mim, como atriz, que interpreto esse personagem? ”

LAWLESS: O nome Xena significa forasteira, estranha. Ela achava que não poderia se redimir. A amizade entre ela e Gabrielle transmitia uma mensagem de valorização pessoal, de merecimento, de honra às pessoas que se sentiam marginalizadas, então havia muita identificação por parte da comunidade gay. Muitas pessoas saem do armário para mim, agradecendo o que eu fiz, e eu não mereço nada disso; éramos apenas duas atrizes nos divertindo muito do outro lado do mundo no que fazíamos.

TAPERT: A verdade é que – mesmo sendo uma época diferente – achávamos estar superando barreiras em dar à Xena história com homens de cor no passado dela, por exemplo. Mas passado o tempo, como os dois personagens seguiram suas próprias vidas, as pessoas criaram esperança e depositaram nelas duas (em Xena e Gabrielle).

LAWLESS: É mais surpreendente 20 anos depois. Nos sentimos honrados de ter feito parte de algo que tem tanta força para as pessoas, mesmo que não tenha sido feito com essa intenção.

O’CONNOR: Nos surpreendemos no começo, mas acho que os roteiristas eram extremamente sofisticados e sábios, e perceberam certas coisas muito antes de mim.

TAPERT: RJ Stewart, o showrunner, sempre foi cuidadoso para que não saíssemos da linha e sempre cuidou para que a audiência não se sentisse usada.

LAWLESS: A coprodutora executiva Liz Friedman e Rob sabiam desde o começo que isso seria um resultado natural por ter duas heroínas de ação.

TAPERT: Antes de filmarmos Xena, filmamos material que iríamos utilizar apenas para a sequência de abertura. O estúdio se preocupava que parecesse um show lésbico e não queria Xena e Gabrielle na mesma sequência na abertura.

O’CONNOR: Estávamos cientes de que havia um limite do que poderíamos fazer, pois era uma série num canal de TV. Enquanto Rob trabalhava tanto quanto podia, ele ainda tinha certas restrições para lidar.

LAWLESS: Elas estavam juntas, certo? Havia subtexto, mas quando Renee voltou ao Texas, as pessoas diziam “Que subtexto lésbico? Do que você tá falando? ” E ela: “Ok…” Estava bastante implícito, não explícito. Honestamente, não nos importávamos se elas fossem conhecidas como personagens gays. Isso não é negativo para nós.

TAPERT: Não queríamos, por alguma razão, que elas estivessem 100% juntas por uma razão muito estranha: havia Ares (Kevin Smith), o Deus da Guerra. Não queríamos abrir mão do controle que esse personagem exercia sobre a Xena. Mesmo sabendo que Xena e Gabrielle eram duas pessoas que eram melhores amigas, e talvez amigas íntimas, nunca desistimos de Ares.

Abaixo, o Entertainment Weekly fala um pouco sobre outros personagens-chave que apareceram em Xena:

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Bruce Campbell – AUTOLYCUS

O que se autoproclamava Rei dos Ladrões era um pouco traiçoeiro, mas era um aliado tanto para Xena quanto para Hércules. “Meu Deus, pensa num senso de humor estranho!” É assim que descrevo o Bruce, diz Renee.

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Hudson Leick – CALLISTO

Depois que Xena destruiu seu vilarejo, a antiga mortal se tornou sua principal nêmeses por muito tempo. “Nos testes, Hudson insistiu que fizesse coisas que não costumamos fazer, como mexer as mãos as mãos e conseguiu nos impressionar”, diz Tapert. “Tínhamos mais 20 pessoas para testar aquela tarde, mas imediatamente queríamos contratar Hudson. ”

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Ted Raimi – JOXER

Um amigo leal e um ajudante comediante, Joxer amava Gabrielle. “Percebemos que queríamos um ator bom em fazer humor”, disse Tapert. “Eu conhecia Ted há muito tempo e ele veio e dominou tudo”.

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Kevin Smith – ARES

O maleficente Deus Grego e meio-irmão de Hércules sondado para Xena: “Kevin morreu numa queda trágica não muito tempo após o término da série”, Lawless disse. “Foi uma perda enorme para nós. Ele era um homem excepcional e não tão apreciado na Nova Zelândia como merecia. ”

Parte do sucesso de Xena veio também da habilidade dos produtores de mixar história com eventos místicos, com abandono, enquanto incorporava à trama muito tempo de tela em acampamentos.

TAPERT: Muito acontecia em acampamentos porque não tínhamos orçamento para fazer determinadas coisas, e nunca tivemos receio de “Vamos contar uma história que temos medo de não poder pagar”, então as opções de acampamento sempre apareciam.

LAWLESS: Éramos queijo, mas éramos do tipo bom. Quem não gostava de um queijo bom?

O’CONNOR: Era absolutamente brilhante por parte dos produtores trazer um elemento de leveza que pudesse distrair as pessoas que assistiam à série. Você tinha todas essas roupas loucas, personagens loucos e centauros aparecendo e era tudo tão louco que você não podia evitar assistir ao menos por alguns minutos. E se você permanecesse assistindo ao show muito tempo, você começava a ver que haviam temas com os quais as pessoas poderiam se identificar e se inspirar o suficiente para continuar assistindo.

TAPERT: Fizemos dois musicais diferentes, um amado e o outro odiado, mas eu amei os dois.

O’CONNOR: Achei que foi bem divertido. Não canto uma nota, então para mim era apenas diversão.

LAWLESS: Sou eu cantando.

TAPERT: Isto vai soar errado, mas o que permitiu que Xena e Hércules dessem certo é porque trabalhávamos no universo de sindicalização da Universal. Naquele tempo, a TV passou por muitas mudanças. Podíamos fazer qualquer tipo de história que quiséssemos. De vez em quando eles diziam “Você não pode fazer isso”, e tivemos um parto cesárea extremamente nojento de uma mulher parindo um bebê centauro. Eles disseram “Os patrocinadores vão cortar”, e fizemos isso do mesmo jeito e aí eles falaram “A M&Ms vai cortar”, e tivemos que reeditar. Tínhamos um episódio que tiraria Xena e Gabrielle do armário e eles disseram “Vocês não podem fazer isso, caras” e resolvemos trabalhar isso de forma diferente. Os roteiristas levaram uma semana inteira para reescrever e mudaram, e naquele momento eles (os patrocinadores da M&M) provavelmente estavam certos, mas não é como se a gente fosse realmente fazer aquilo em a participação deles. As coisas teriam sido diferentes.

LAWLESS: O pior episódio foi quando fomos crucificadas; brutalmente mortas de frio no inverno da Nova Zelândia e eles escrevendo cenas de crucificação. É com certeza meu jeito menos favorito de morrer. Fui crucificada várias vezes e nunca é legal. Há muito vento e você passa horas pendurada numa cruz.

O’CONNOR: Tínhamos animais encolhendo, metáforas para tratar de Jesus, César, batalhas romanas. Viajamos o mundo e fomos a vários países diferentes como à Índia, à China. Não havia muito que Rob e seu time não conseguisse alcançar.

TAPERT: A quinta temporada foi conhecida por ensinar lições sobre a vida. Foi conhecida por várias questões, além do fato de Lucy ter engravidado e o escritório de roteiristas ser deixado um pouco tumultuado e tirarmos os olhos da bola. Certos episódios que não chegaram a acontecer, por exemplo.

LAWLESS: Algumas coisas não davam certo, mas tudo tinha bastante cuidado. A série era maior do que a soma de partes porque o amor que era depositado nela era grande. Era puro amor esse show. Não importa o que fizéssemos, o mantra principal era “Procurar pelo amor”. Até na luta; Xena e Gabrielle lutando, procure pelo amor.

Com o sucesso, veio uma quantidade enorme de pressão e notoriedade

LAWLESS: Eu achei estranhíssimo na primeira temporada porque as pessoas me chamavam de “ícone feminista”. Xena era tomada pela barbie gorda de alguém e eu me sentia como “Vocês estão me objetificando”. Eu nunca fui descrita assim antes e isso me assustava, ser definida por algumas palavras, menos que um tweet. Agora, com a sabedoria trazida pela idade, eu me sinto “Certo! ” Agora percebo o valor disso. Com 25 ou 26 eu não suportava ser reconhecida, porque isso era muito redutivo.

O’CONNOR: Isso provavelmente ficava nas costas de Lucy, mais até do que nas minhas. Para mim, eu só percebi que poderia manter os olhos da audiência para o coração de Gabrielle e deixar eles perceberem o que eu percebia, podendo, assim, fazer o melhor trabalho possível.

Depois de seis temporadas e 134 episódios, Xena foi cancelada, finalizando em 18 de junho de 2001.

LAWLESS: Achei que era a hora certa. Lutei contra isso durante um ano, porque era forte demais. Eram nove meses por ano. Eu estava cansada no final, muito cansada.

O’CONNOR: Eu estava pronta para parar. Pronta para chegar a um capítulo diferente da minha vida.

TAPERT: Descobri na quinta temporada que seria o final e àquela época eu pensei: “Bem, estamos fazendo a quinta temporada agora e talvez seja a coisa certa a fazer, então vamos nos esforçar para fazer a sexta temporada ser tudo aquilo que amamos sobre a série e o que pode ser”.

O’CONNOR: Saímos na hora perfeita e isso não significa que não tenhamos nos sentido como se tivéssemos perdendo nossos amigos e senso de família que tínhamos na Nova Zelândia. Vivendo como Xena e Gabrielle, realmente tínhamos esse senso de família. Mas não guardo arrependimentos sobre o período em que a série foi concluída.

TAPERT: Tivemos uma ótima sexta temporada, embora as pessoas gostem ou não do final da série. Sei que alguns fãs se desapontaram.

O’CONNOR: Pessoas detestam o fato de eu ter amado o final. Eu sei que ninguém queria ver a Xena morrer e as pessoas se sentiram traídas por terem matado a Xena.

LAWLESS: A morte da Xena é um grande arrependimento que eu guardo, pois eu não percebi o que ela significava para as pessoas. Pensamos: “Ah, é um final muito forte.” Agora eu apenas digo “Vamos fingir que isso nunca aconteceu.”.

O’CONNOR: Por ser uma contadora de histórias, senti que isso dava ao show um propósito porque resultou no que ela queria, que era se redimir por todo o mal que causou no passado.

TAPERT: Olha, tivemos várias conversas sobre isso. RJ e eu, e achei que Xena era culpada e isso não era apenas para separá-la de Gabrielle, mas a coisa interessante é que provavelmente subestimamos a rejeição que isso causou.

O’CONNOR: Eu sempre achei isso extremamente corajoso, tanto que aplaudo Rob mais do que qualquer um por ser tão corajoso.

TAPERT: Achamos que seria o certo se tratando de um personagem que havia vindo de um passado tão violento e sem lei, por isso fizemos isso. Havia um pouco de egoísmo no fechar dessa porta, entretanto.

Mesmo com a porta fechada, o legado de Xena permaneceu vivo.

TAPERT: Xena abriu a porta não apenas para si mesma, porque havia um estigma de séries com protagonistas femininas. Sei que parece estranho, mas depois de a capitã de Star Trek ser uma mulher, Buffy surgiu e depois Alias e depois a coisa explodiu.

O’CONNOR: É fascinante ver como várias atrizes tiveram oportunidade de interpretar fortes papeis de ação na televisão e nos filmes. Nem tudo veio de Xena, mas ela alcançou um público em um período em que era a única no estilo e aquilo era fantástico. Lucy interpretava Xena como se fosse o cara mais forte no ambiente. Não havia desculpas e aquilo de certa forma criou um paradigma para uma personagem que agora pode ser encarada como uma experiência normal para qualquer atriz.

LAWLESS: Não acho que podemos levar todo o crédito por isso. Realmente trouxe o estilo de ação de Hong Kong e trouxe notoriedade à causa LGBT, possibilitando que eles se vissem na televisão e aquilo era novo nos anos 90. Como as coisas mudaram de subtextos de Xena a Iam Cait. É uma evolução incrível em 20 anos, e acho que é uma evolução muito positiva.

Mas a porta pode abrir novamente: NBC desenvolve um reinício com Tapert, produtor executivo Sam Raimi e com o roteirista Javier Grillo-Marxuach. Mas não esperem ver Lucy e Renee nas telinhas.

TAPERT: Acho que isso é um desserviço às atrizes do original. É o sonho do canal e do patrocinador: “Sim, vamos trazê-las de volta para interpretar as mães, para ser o oráculo.” É uma versão diferente, então, não, eu não sou particularmente fã dessa ideia.

O’CONNOR: Xena é uma personagem tão incrível que seria certo trazê-la de volta mesmo com apenas 5 anos de encerramento da série.

TAPERT: Estranhamente, o mundo ainda precisa desse personagem e você pode atualizar a história e adequá-la de forma que pareça atraente à nova geração. Ainda há a necessidade da personagem por parte dos que se sentem deslocados, ou pessoas que precisam de uma direção, ou alguma ajuda em seus caminhos.

O’CONNOR: Ouvi dizer que será mais focada na verdadeira relação de Xena e Gabrielle, mostrando o que elas são e o amor de uma pela outra de um jeito novo. Só posso esperar que mantenham a essência do personagem rica como na série original, onde elas são mais do que apenas parceiras, e sim o mundo uma para a outra.

TAPERT: Não creio que há razão para não incluir um personagem LGBT, pois é uma época diferente. Patrocinadores não pedirão para cortar. Uma boa história não é o melhor para as personagens? Já assistiu Rizzoli and Isles? Acho que fizeram um bom trabalho nessa série. A ideia é de que agora pode-se ir mais longe sem perder audiência – exceto a de Missisipi, provavelmente. É muito cedo ainda, mas a raiz de Xena é o seu relacionamento com Gabrielle.

LAWLESS: O mundo ainda precisa de um herói. Ainda há pessoas que se sentem inferiorizadas, que precisam e querem honra e igualdade. E isso é o que define o show.

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