Girl Power

4 - 6 minutes readAté a Gabrielle a chamaria de tampinha…

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GIRL POWER – n. 33

…mas certamente a intitularia de grande guerreira! Hit THIS!

Por Alessandro Chmiel

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Twitter: @AleXenite

 

Obs.: artigo feito com base na versão cinematográfica de Kick-Ass, e não nos quadrinhos que a originaram. Qualquer falta de concordância entre o filme e o comic book não é tomado como relevante pelo colunista, certinho? Bom artigo!

 

Há tempos um filme não me surpreendia tanto. Quando avistei os cartazes que anunciavam Kick-Ass (direção de Matthew Vaughn adaptado da obra de Mark Millar e John Romita Jr., 2010) nos cinemas, achei que fosse piada, algum tipo de propaganda de protesto contra os incontáveis filmes de super-heróis. E não deixa de ser uma grande crítica em certas cenas… Pois bem, visto que se tratava de um filme de verdade e muito elogiado, eu… não assisti igual. Porque só podia ser palhaçada. Bem, era pra ser palhaçada também. Contudo, o filme carrega um tom tão sério que incomoda, que acaba pesando mais do que uma comédia de domingo (odeio muito).

Kick-Ass conta a história de um garoto chamado Dave Lizewski (Aaron Johnson, 20), que decide virar um super-herói. Isso mesmo, ele decide: não é mutação, superforça, cicatriz na testa, Ares-me-deu-um-chakram, nada inumano. Apenas vontade de ser um bom moço e lutar pelo bem, pelos fracos, contra a violência das grandes cidades, um Joxer wannabe. Como era de se esperar, o guri, que adota o título de Kick-Ass, apanha mais que o diabo apanha da Xena e quase vai parar nos Campos Elíseos mais cedo, até que alguém – uma menina – salva sua vida das mãos de bandidos sem escrúpulos que não têm tempo pra se chatearem com um moleque desses. A menina mais parece uma pirralhinha saída do Halloween, mas em questão de segundos confere um banho de sangue com material fresquinho dos irmãos da malandragem que intencionavam matar o Joxer versão séc. XXI. E a partir daí, como Joxer sempre admirou Xena, que Dave começa a olhar Hit-Girl como a existência corpórea do seu mais profundo desejo. A partir daí, o filme é dela.

 

Não se engane quando eu digo banho de sangue. Não julguem o tamanho verticalmente prejudicado dela nem o roxo intenso de suas roupas. Hit-Girl luta como uma guerreira adulta, e cada um de seus golpes carrega um objetivo fatal. Ainda assim, melhor do que isso é a sua história. Filha de um policial, a menina Mindy McCready (Chloë Moretz, 13), que carrega esse forte codinome, perdeu a mãe muito cedo, enquanto o pai estava trancafiado na prisão. O pai dela, Damon McCready (Nicholas Cage, 47), é acusado injustamente por porte de drogas: tudo armação de um grande bandido que quis acabar com a felicidade do policial. Sozinha, Mindy é criada pelo parceiro de trabalho do seu pai (o filme não deixa explícito se os dois mantinham uma relação além de amizade), até que ele saia da prisão e reclame a guarda da filha. Com a pequena de volta aos seus braços, Damon aluga o codinome de Big Daddy para fazer justiça com as próprias mãos, enquanto treina a filha para se tornar uma lutadora inescrupulosa, mas do bem, com determinação para cumprir suas missões até o fim.

Mindy não parece contrariada por ter uma vida bastante incomum para uma filhinha do papai. Na verdade, tudo o que ela quer saber é sobre as armas afiadas que ganhará de aniversário, e de que modo é mais divertido matar e ridicularizar o próximo inimigo. Seu pai lhe instrui em todo tipo de absurdo ninja (se bobear até assistia XWP junto com ela…), testando-a física e mentalmente para mantê-la focada em ser uma grande combatente do crime.

 

Para todos que acompanharam a Xena barriguda durante a quinta temporada, o episódio 05×08 – Little Problems seria a melhor comparação. Afinal, Hit-Girl tem apenas a aparência de meiguice e inocência infantis, assim como Daphne após o feitiço de Afrodite que transportou a alma de Xena para o corpo da menina. Desse modo, sempre que Daphne corresse perigo, podia contar com a força descomunal da Princesa Guerreira, mas nem sempre com sua sabedoria. Mindy, enquanto Hit-Girl, é alterego do que ela própria é em sua essência, com um pouco de maquiagem aqui e ali. Suas habilidades são natas, suas responsabilidades, imensas.

 

Acho que o grande lance do filme me lembra, em parte, o episódio tão injustamente difamado 04×10 – The Key to The Kingdom. Após rever e analisar o episódio, concluí que a grande mensagem dele é que não é preciso ser a Xena ou algum grande guerreiro para se fazer o bem ou o que é justo. Não preciso ter um chakram para atingir meus alvos, uma espada para rasgar as dores do mundo, ou mesmo de um grito de guerra para dizer ao mundo “sim, eu estou aqui e pronto para brigar and to kick your ass!!!”. Temos nossas ações, do nosso modo, que vão moldando-nos e ao mundo ao redor. Tanto em TKTTK quanto em Kick-Ass, os heróis sem poderes não desistem, e não desistir é obra de tudo o que a vida consiste. Se a vida dói, por que se entregar à dor? É nossa obrigação como ser humano – principalmente como Xenite – de mostrar que o mundo conta com pessoas dispostas a lutar pelo que acreditam, que têm fé no Bem Maior, que todos os dias vestem a fantasia da sociedade para esconder uma identidade secreta: a de uma pessoa iluminada, com esperança (letra minúscula, povo, ok?) na humanidade e a certeza de que trilhamos o caminho certo. O caminho que Xena nos ensinou, e que a Hit-Girl também exemplifica.

E você, vai lutar até o final? Descubra seus poderes e… kick ass!!!

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