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4 - 5 minutes readAsgardas : As amazonas do século 21.

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Todo país tem um estereótipo, é difícil fugir disso, principalmente porque a maioria deles acaba se formando através de fatos – infelizmente – verdadeiros.

Acredito que a maioria das pessoas já ouviu – seja em notícias reais, seja em filmes ou séries – a respeito do problema que a Ucrânia – que no passado, foi um país que valorizou muito o matriarcado –  enfrenta com o tráfico de mulheres que são aliciadas e vem para a América, mas acabam enfrentando condições de vida degradantes, prostituição ou acabam mortas quando “deixam de servir pra algo”. Revoltante. Mais revoltante ainda é a gente saber – tendo como exemplo o Brasil – que às vezes os maiores problemas sociais que um país enfrenta não recebem a atenção e o cuidado por parte dos líderes dessas nações, e acabam tomando proporções intoleráveis.

Eventualmente, quando o nível do intolerável é atingido, um estompim estoura, criando uma reação à adversidade, e é disso que venho falar aqui nesse artigo, das mulheres da “tribo” Asgarda.

Asgarda é uma tribo de cerca de 150 mulheres ucranianas que se juntaram com o objetivo de buscar completa autonomia em relação ao patriarcado ( segundo diz o fotógrafo francês Guillaume Herbaut, embora abaixo vocês verão que as coisas não são bem assim). Esse grupo se encontra nas montanhas do Cárpato e as mulheres tem idades variadas, mas na sua grande maioria são estudantes, lideradas por Katerina Tarnouska.

Revivendo as tradicões das amazonas Citianas da Grécia Antiga, essas mulheres treinam diariamente técnicas de luta que envolvem boxe, karate e outras artes marciais como o Bojovyj Hopak, uma técnica de luta baseada em danças dos cossacos. Além disso, aprendem habilidades da vida diária (tarefas domésticas, consertar coisas, etc) e estudam ciências, saúde e esportes, buscando ser o que na visão delas é a mulher ideal.

Nas palavras das mulheres “Nós mulheres podemos viver independentes e pacificamente sem influência de nenhum homem […] estudando uma variedade de temas, as mulheres podem ser versáteis e terem orgulho de serem mulheres. Toda mulher tem a oportunidade de aprender sobre medicina, leis, literatura, psicologia, filosofia, religião, música, artes, astronomia. Nós cozinhamos, assamos, lavamos e cuidamos de crianças também. Nós também cantamos, dançamos, escrevemos, pintamos e exercemos nossa criatividade.

Vídeo com apresentação das Asgarda

“As mulheres são treinadas em artes marciais para podermos nos proteger de qualquer perigo potencial. Contudo, as lutas não são ensinadas apenas para defesa, mas também pra nos ajudar a compreender o equilíbrio da força natural, para fortalecer nosso corpo e mente”.

Apesar disso, essas mulheres não são uma personificação do conceito “torto” de feminismo que a mídia às vezes divulga erroneamente. Elas não são feras femininas odiadoras de homens como se pode pensar, tanto que um dos seus mestres da técnica Bojovyj Hopak é um homem chamado Volodymyr Pylat.

Mas a Asgarda não para por aí.

Durante a pesquisa para escrever esse artigo, acessei uma variedade de páginas estrangeiras (inglês, russo e ucraniano) para coletar informações, e em algumas delas encontrei artigos ridicularizando o conceito Asgarda, dizendo que não se tratava de “uma tribo de mulheres”, como foi divulgado inicialmente, mas sim um acampamento de artes marciais para mulheres, que nada tinham de estilo de vida amazona. Curiosa com tantas informações divergentes, fui mais a fundo na pesquisa pra tentar entender afinal qual versão era a correta.

Pesquisando, vi que Asgarda é um conceito que se tornou mais abrangente no decorrer dos anos.

Na explicação encontrada no site do próprio Volodymyr Pylat, Asgarda é definida:

“Asgarda é uma arte marcial das mulheres ucranianas.
Asgarda é um complexo e harmonioso sistema de desenvolvimento para mulheres.
Asgarda é um sistema moral e ético onde mulheres são criadas e educadas.
Asgarda são mulheres orgulhosas e persistentes.
Asgarda é um complexo sistema de desenvolvimento harmônico para mulheres, baseado na arte marcial Bojovyj Hopak e nos elementos da dança ucraniana”.

Como podem ver, Asgarda não é uma “comunidade de mulheres que resolveram se isolar de homens”, mas um sistema, uma ideologia, uma arte e além disso, também existe o grupo de mulheres que tem como mentora Katerina Tarnouska. Porém, o conceito se expandiu e tomou proporções bem mais amplas como a definição acima tirada do site de Pylat, transformando-a numa manifestação ideológica e cultural.

No contexto atual, seria utópico pensar em amazonas vivendo em cabanas e uivando para a lua, mas isso não faz com que as mulheres Asgarda deixem de ser uma tribo no sentido atual da palavra. Não uma com uma ideologia segregacionista, mas sim de fortalecimento feminino, seja ele físico, moral, intelectual e até mesmo espiritual. Um conceito que felizmente rompeu as fronteiras da Ucrânia e se espalhou para outros países como China e Turquia!

 

Outra apresentação de dança com traços de luta:

 

Fontes:

http://asgardaj.ru/

http://www.planet-mag.com/?s=asgarda

http://www.stephaniealicerogers.com/2012/01/asgarda-power/

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