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4 - 6 minutes readAnálise de Xena: Reis e Bardos

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 Natália Coelho

 

Olá pessoal! Tudo bem com vocês? Espero que sim. Bom, depois de muito tempo pensando na possibilidade de escrever esse artigo, a coragem surgiu e aqui está o resultado. Quem viu ou vê Xena sabe que fora os arquiinimigos famosos como Alti e Calisto, em determinados episódios temos a figura do Rei. E muitas das vezes esses são do mal. Agora, será que colocar um personagem típico da época moderna foi um anacronismo por parte dos roteiristas? Eu digo que não. Foi uma grande sacada. Brilhante até. Cronologicamente, o seriado Xena abarca diversas eras e acontecimentos do mundo antigo: o ataque dos persas na Hélade ( região da Grécia atual) ou península Balcânica, o cerco de Potédia na guerra do Peloponeso e os heróis homéricos como Ulisses ou Odisseus, por exemplo.

Península Balcânica e o seu relevo. Reparem nas montanhas em cinza e as ondulações do relevo da Hélade.

 

Voltando à questão da figura real e relacionando-a com a cronologia xenística, o cerne do seriado se baseia numa época anterior à própria democracia ateniense ( as famosas Assembléias ). É a época quando o guerreiro não era coletivo ( como a falange hoplítica, quando cada guerreiro possuía um escudo do tamanho do seu corpo e um ficava do lado do outro, formando uma barreira de escudos dos lado ) mas, um guerreiro que lutava sozinho. Fazia-se honra por ser lutador solitário, individual.

 

A Falange Hoplítica: uma revolução na arte de guerrear e considerada pelos historiadores como um marco no surgimento do pensamento sobre a democracia e a política.

 

O primeiro caso, a honra se fazia por fazer parte de um coletivo, ou seja, a visão de um guerreiro solitário era desonrosa, pois se deixa claro que o mesmo não pensava no coletivo (que é o que a democracia ateniense propõe: o conceito de se pensar nos problemas da comunidade, no caso de Atenas, da Poleis, daí deriva-se o termo Política= Poleis, assunto da Poleis).

A questão dos Reis é muito aceitável nesse período descrito acima. Veja, ao observar o livro que o Homero produziu Ilíada e a Odisséia, vemos que na primeira, Agamenôn o Ánax, ou o Reis dos Reis, propõe que os outros Reis embarguem na aventura de atacar Tróia. Ou seja, Além do Anáx, temos outros Reis na Hélade. No caso grego, os outros Reis se chamam Basileus. Portanto, os reis que Xena e sua companheira, Gabrielle, enfrentam nada mais são Basileus. Reis locais com a sua própria nobreza, notadamente guerreira. Não era a mesma nobreza da época moderna. Os nobres da época de Xena são guerreiros. Daí que Agamenôn precisa deles para ir na Guerra de Tróia. Ou seja, na época de Xena temos a seguinte situação: O Ánax, Basileus, aristocracia guerreira e o restante. No segundo livro de Homero, U

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lisses é apresentado não como Ánax, pois no seu tempo o Ánax já tinha decaído, mas como o mais forte dos Basileus em Ítaca. Seu Oikos ( aquilo que ele tem, tanto pessoas, servos, terras e coisas materiais) é o maior. E por isso tem a maior voz em relação aos outros Basileus.

Agora entramos noutra questão referente a quantidade de vilarejos que elas visitam. Ah, mas eles não podem ser considerados cidades! Errado. A póleis não foi o único jeito de governas uma comunidade. Em Atenas foi a Poleis. Em Esparta, outra. Na primeira, a democracia. Na segunda, uma oligarquia. E em outras? Diversos tipos de aglomerações. Portanto aquelas cidade que, por exemplo, Gabrielle e Xena viajam realmente são muito possíveis.

Outro fator que exemplifica ainda mais a época de Xena, é a própria Gabrielle. Sério. Na série ela, inicialmente é dita como uma barda. E ele conta histórias. Os mitos. A Verdade para aquele povo. Os mitos são a verdade para eles, assim como a ciência é para o mundo contemporâneo. Portanto, a palavra é dela. Ninguém debate sobre. A palavra está restrita para ela e para quem ela conta, a pessoa que tem voz nas proto-assembéias: o Basileu. Para os gregos o bardo se chamada Aedo. E nele estava o poder das palavras, porque ele poderia ludibriar qualquer ao contar a palavra: detinha uma ótima eloqüência. No caso de Gabrielle, sua índole não permitia, mas quem não se lembra o primeiro episódio quando a loira defende Xena antes que ela seja linchada? O que fez a multidão? Só um homem falou. O líder. O restante só fez barulho e baderna, sendo como se fosse um pêndulo que ora apoio um e ora, outro.

A figura da guerreira Xena e a da Aedo Gabrielle exemplificam uma época de transição entre uma Grécia de Reis, para outra onde a Palavra se torna coletiva ( todo podem fazer uso da palavra através do Debate ), onde a política surge, onde a democracia se ergue.

 

Fontes:

A Origem do Pensamento Grego. VERNANT, Jean-Pierre. Editora Difel.

Os mestres da verdade na Grécia Arcaica. DETIENNE, Marcel. Jorge Zahar Editor.

História da Guerra do Peloponeso. TUCIDIDES. Editora UnB.

Grécia Primitiva. Idade do bronze e Idade Arcaica. FINLEY, M. I. Editora: Martins Fontes.

Uso e Abuso da História. FINLEY. M.I. Editora: Martins Fontes.

O Mundo de Ulisses. FINLEY, M.I. Editoral Presença

City and Country in the Ancient World. RICH, John and WALLACE-HADRILL,Andrew. Editora: London and New York.

Unthinking the Greek Polis.  VLASSOPOULOS, Kostas. Editora: Cambrigde University Press.

Fotos:

1 foto: http://www.lumini.xpg.com.br/LUMINI_Filosofia/Grecia_Antiga.html Acessado em 13 de Novembro de 2010 às 12:00.

2 e 3 fotos: http://www.enciclopedia.com.pt/print.php?type=A&item_id=979. Acessado em 13 de novembro de 2010 às 12:02.

 

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