Bitch Power

4 - 6 minutes readA boca é de algodão, mas seu veneno…

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BITCH POWER – n. 18

Porque boas heroínas precisam de vilãs à altura.

Por Alessandro Chmiel

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Dedicado aos Xenites do encontro ocorrido em São Paulo. Porque vocês são a prova real de que a felicidade exist
Obs.: contém spoilers de Kill Bill. Ainda não viu? Então vai pra bacante que o pariu na locadora ONTEM e curte a obra-prima de Quentin Tarantino. E volta pra cá, é claro.

 

Começo, nesta edição da RX, a trilogia Kill Bill Bitches, com as vilãs irreverentes deste filme já mostrado por aqui quando a RX ainda engatinhava na coluna da GP n. 4 e n. 5, com A Noiva em destaque.

            Se você já assistiu aos dois volumes, deve lembrar da tal “Lista de Morte n. 5” (vai saber quem estava nas listas anteriores da guerreira loira vingativa!). Nesta 18ª edição da BP, falo na primeira da lista, O-Ren Ishii, interpretada pela bela atriz Lucy Lawless Liu (41).

            Nas palavras da Noiva, O-Ren era a mais fácil de ser encontrada, por se tratar de ninguém menos que a líder da Yakuza japonesa, a maior máfia da terra do sol nascente (há quem diga que tudo começara com a Akemi, tanto na parte criminal quanto nessa sede de vingança permeando o universo, mas deixa pra lá).

             Não é necessário resumir as origens de O-Ren, considerando, é claro, que a gente viu o filme e lembra de toda a recapitulação do passado de O-Ren em anime (assim como XWP, Kill Bill tem de tudo!). Existem discussões a respeito de um dos assassinos dos pais de O-Ren quando ela era criança se tratar do próprio Bill (pelas feições do rosto, pela espada e pelos anéis que ele usa), seu futuro mentor, o que abre a discussão a seguir.

           O-Ren sem dúvida sofreu muito na sua infância, e foi obrigada a tomar conta de si mesma muito, mas muito jovem. Conheceu o ódio, a morte, a sede de sangue, a malícia e maldade do mundo. Alcançando sua própria vingança, não restara alternativas para O-Ren senão o próprio crime. Possivelmente, O-Ren culpasse o Destino, e somente ele, pelos resultados que a vida lhe ofereceu. Tornando-se uma das maiores assassinas do mundo, não demorou para que Bill enxergasse potencial na matadora sino-americana. Desse modo, O-Ren tornou-se Boca de Algodão (da cobra de origem americana cottonmouth), um membro das D.I.V.A.S., o Esquadrão da Morte Víboras Mortais.

             Após um tempo indeterminado sob o codinome de serpente e liderança de Bill, o erro fatal: trair sua antiga colega de assassinatos, a Mamba Negra, ou A Noiva, como melhor conhecemos a heroína da história. O-Ren não teve piedade alguma da moça grávida, e a espancou mesmo assim (quase um corredor polonês, mas mais como uma “roda punk”). O grupo rompeu – talvez Bill tivesse dispensado todos após atirar na cabeça d’A Noiva –, e O-Ren conseguiu conquistar o controle da Yakuza. Se fôssemos considerar, para uma mulheresem raízes japonesas sentar no trono de tal máfia, seria preciso muita seriedade e força no que O-Ren aprendera a fazer de melhor: matar.

            Por uma razão ou outra, O-Ren Ishii acabou se perdendo no meio do caminho. Alcançando “justiça” por vingar a morte de seus pais tão rapidamente, O-Ren não teve qualquer maturidade ou guia para iluminar seu caminho, que começou banhado em sangue e terminou da mesma forma. E nesse ponto, O-Ren é mais similar a Callisto. Explico: se considerarmos o matador da parte em anime no filme como verdadeiramente Bill, O-Ren terminou, através de seu caminho criminoso, trabalhando para o inimigo, cometendo um grande erro que resultou em sua morte mais que merecida. O perdão estava dado, mas perdoar O-Ren, da parte d’A Noiva, não significava poupá-la da punição: uma luta até a morte. Em XWP, Callisto, também em busca de vingança, acabou aniquilando seu próprio coração, tornando-se ainda mais terrível que Xena nos seus tempos de Destruidora de Nações. E valer lembrar que O-Ren primeiramente mandou todos os seus capangas atacarem A Noiva, e assim que conseguiu derrubá-la sozinha, cantou vitória antes do tempo, com a arrogância de uma guerreira suja para, em seguida, ser ferida com todo o furor d’A Noiva traída. E foi apenas neste instante de medo, de ameaça na carne, que O-Ren ponderou suas ações, e suas feições remontaram a daquela criança indefesa, e seu coração mostrou um pulsar de piedade.

            Uma curiosidade: O-Ren é a única a ser morta pela espada feita por Hattori Hanzo especialmente para A Noiva (exceto os decepados dos 88 Malucos). Ainda que a espada fosse crucial no caminho d’A Noiva, O-Ren foi a única que sentiu sua lâmina impiedosa. Uma luta de espadas, contudo, criaria uma luta de igual para igual entre as combatentes samurais, e em Kill Bill o “um contra um” geralmente leva essa “igualdade” em conta.

            O universo de Kill Bill, ainda que não pareça, pode ser muito próximo da realidade quando se trata se amor e ódio, perdão e vingança, coisas que XWP consegue tratar como poucas coisas que se veem por aí. Às vezes nos dedicamos tanto a um sentimento ruim que, quando nos damos conta, estamos nos alimentando dele, vivendo para ele. O final de O-Ren seria “feliz” se sua história terminasse quando ela alcançara sua justiça, e parasse por aí. Mas vingar-se não era solução para a menina, que se tornou criminosa, líder de gangue, vilã e Bitch Power. Vítima de si mesma.

            Mês que vem, a segunda na lista da Noiva dá as caras, as facas e o sangue aqui na BP. Abraço a todos, e comentem! Obrigado.

 

Fontes:

– Artigo sobre a cena em anime: http://smellycat.com.br/2009/02/10/kill-bill-a-origem-de-o-ren-ishii/

– Falas de O-Ren (em inglês): http://www.imdb.com/character/ch0001802/quotes

 

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